Os Barões do Café faziam parte de uma elite de donos de fazendas produtoras de café. Os títulos de barão começaram a ser concedido quando D. João VI chegou ao Brasil e se instalou no Rio de Janeiro. As terras ao redor da cidade foram doadas como sesmarias para que pessoas ligadas à Família Real cultivassem o grão que o próprio Rei doou.
O solo fluminense era fértil e o café se adaptou perfeitamente. Com o sucesso das safras e a conquista do mercado internacional, os Barões se transformaram, mais que agricultores, em agentes políticos. Com o esgotamento do solo fluminense, o cultivo do café encontrou no interior paulista o local perfeito para se multiplicar. Então, mais sesmarias foram doadas, muitos engenhos de cana-de-açúcar e fazendas de algodão inseriram também o ouro verde em suas terras. Assim, o movimento do poder mudou e outra elite surgiu: a dos Barões do Café de São Paulo. Essa elite era muito forte e influenciou diretamente as diretrizes políticas do Segundo Império, de D. Pedro II.
Os Barões e suas fazendas
As fazendas de café tinham uma hierarquia bem definida e construções típicas. Normalmente os espaços eram: a Casa Grande, moradia da família; o lavador de café; o terreiro; o engenho de beneficiamento; a tulha, onde se armazenava os grãos; a capela; as senzalas; e as casas de colonos, após 1888. A vida cotidiana era na fazenda e as festas religiosas eram os principais eventos sociais.
As vilas
As vilas existentes, em sua maioria, eram compostas pela Casa de Câmara e Cadeia e de um pelourinho, que tinha como função primordial ser um local para reunir as pessoas e ali declamarem as ordens oficiais das capitais das províncias. Também tinham uma igreja dedicada ao padroeiro da cidade e, em algumas, as de São Benedito ou de Nossa Senhora do Rosário que eram frequentadas pelos negros.
As casas, na maioria geminada, eram construídas ao redor da igreja principal. Também tinham armazéns e pousos para os tropeiros venderem, comprarem mercadorias, descansarem, contarem novidades de outras vilas, movimentando o povoado. Alguns Barões tinham casas nas vilas, onde passavam alguns dias para cuidarem de seus negócios e participarem de festejos. Também ajudavam na construção das igrejas, de casas de saúde, entre outros.
As ruas, quando iluminadas, eram à base de lampiões e não existia pavimentação, apenas nas vilas mais abastadas como Ouro Preto, Diamantina, Santos, Paraty ou Rio de Janeiro, e mesmo assim eram pavimentos chamados de pé de moleque, feitos com pedras dispostas em um mosaico desconcertante. Quando o café passou a ser comercializado no exterior e os Barões enriqueceram, um das primeiras intervenções feitas nas vilas foi justamente a pavimentação em pedras, para que as pessoas pudessem transitar sem sujar suas roupas e levantar menos pó com o ir e vir dos cavalos e carroças.
Suas casas também foram reformadas com elementos arquitetônicos importados da Europa, como vidros, ferros, entre outros, assim como o banheiro passou a ser interno e mais janelas foram instaladas. Tornaram-se tão suntuosos que eram chamados de palácios, palacetes ou solares.
As ferrovias
Também foi por meio dos Barões do Café que investimentos destinados à construção de ferrovias foram feitos. Afinal, era de extrema importância para o escoamento do café que saía das fazendas até Jundiaí e de lá para os portos de Santos e, do Vale do Paraíba até o porto do Rio de Janeiro. Essas ferrovias foram a mola propulsora do desenvolvimento urbano no interior do estado de São Paulo. Nos arredores das estações, casas comerciais e moradias, como os núcleos coloniais foram instalados. A partir daí as vilas não estavam mais tão isoladas e à poucas horas de distância umas das outras.
A escravidão
As primeiras fazendas utilizavam, como mão de obra, o trabalho escravo indígena. Porém, os nativos, devido à nova e abjeta condição, não conseguiram resistir ao trabalho escravo. Muito sucumbiram, outros fugiram e se embrenharam nos sertões desconhecidos. Assim, os africanos, em um comércio desenfreado, substituíram os indígenas e por muito tempo foram a força motriz da engrenagem dos engenhos de cana-de-açúcar e dos cafezais e os responsáveis pela riqueza de nossas exportações. Muitos fazendeiros foram desumanos no trato dos africanos, porém a escravidão era, no ver dos Barões do Café, uma necessidade para a lida com a terra e a geração de lucros. Alguns Barões eram abolicionistas, outros, bem mais conservadores, porém a pressão internacional fez com que o Brasil Império fosse, pouco a pouco, fazendo leis que dificultasse os movimentos escravocratas. Com o tempo e movimentos abolicionistas, essa prática foi extinta e assim os cativos foram libertos.
A imigração
O século XIX, na Europa, foi conturbado com guerras civis e o êxodo rural. O enfraquecimento econômico de países como Espanha e Itália foi uma alavanca para que milhares de pessoas deixassem o Velho Mundo e procurassem outras oportunidades no Novo Mundo, e o Brasil foi um dos países escolhidos. Assim, essa mão de obra europeia caiu com perfeição nas lavouras brasileiras. De início a relação fazendeiro/imigrante não foi das melhores, porém, após ajustes e adaptações de ambos os lados, deu certo.
O fim da era dos Barões do Café
Na realidade não houve um fim da era dos Barões do Café, mas a Quebra da Bolsa de Nova Iorque, em 1929, levou sim uma grande perda na produção do café. Foi um desastre mundial que afetou diretamente o Brasil. Estoques imensos para regulação de preço do grão foram queimados e as fazendas rapidamente entraram em declínio. Entretanto, os Barões, em seu supremo poderio, já diversificavam seus investimentos, então muitos deles perderam somas enormes, mas sobreviveram com outras fontes de renda. Alguns realmente faliram e repassaram suas terras aos seu trabalhadores, no caso os imigrantes, e ficaram com lotes menores cultivando outros produtos.
Barões do Café do Corredor Dom Pedro
Barão de Anhumas
Manoel Carlos Aranha nasceu, em 1814, em Ponta Grossa, ainda pertencente à então província de São Paulo. Era descendente de franceses e portugueses, em seus primórdios. Segundo historiadores, Aranha e seus irmãos, Joaquim e Maria, estavam ligados diretamente a José Francisco Aranha Barreto de Camargo, sesmeiro da região de Campinas. Foi proprietário das fazendas Pau d’Alho, Anhumas, Santa Cândida, Rio da Prata, Santa Maria, Terra Branca, Palmeiras, Jaguari e Santa Clara. Suas obras estão no melhoramento urbanístico de Campinas, na construção do Liceu Nossa Senhora Auxiliadora, Liceu de artes e Ofícios de Campinas, a Catedral Metropolitana de Campinas e a Capela da Boa Morte no interior da Santa Casa de Misericórdia.
Foi acionista da Cia. Carris de Ferro e da Cia. Mogiana de Estradas de Ferro. Anhumas recebeu o título de Barão em 1889, porém já possuía os de Cavaleiro e comendador da Ordem de Cristo. Aranha morou muitos anos no centro urbano de Campinas e mudou-se para São Paulo, por conta da epidemia de febre amarela. Faleceu em 1894, e foi sepultado no Cemitério da Consolação.
Barão de Araras
Bento de Lacerda Guimarães nasceu na cidade de Itatiba, no ano de 1820, e se destacou como fazendeiro na região de Limeira, onde possuía uma sesmaria. Foi fundador da cidade de Araras. Um dos legados deixado pelo Barão foi o Solar dos Alves Lanhoso, em Itatiba, construído em 1857, e comprado pelos Alves Cardoso e Lanhoso, mais tarde. Lacerda recebeu o título de Barão em 1887, falecendo dez anos mais tarde em 1897.
Barão de Itatiba
Joaquim Ferreira Penteado nasceu na cidade de São Roque, em 1808. Aos 22 anos de idade, mudou-se para Campinas onde foi proprietário das fazendas Cabras e Duas Pontes. No centro urbano, construiu, em 1878, e morou no Palácio dos Azulejos, hoje tombado pelo IPHAN, CONDEPHAAT e CONDEPACC, e pertencente à Prefeitura de Campinas, que abriga o Museu da Imagem e do Som. Foi fundador da Escola do Povo que teve como objetivo ministrar aulas aos mais desfavorecidos. Recebeu o título de Barão de Itatiba em 1882. Faleceu em 1884 e está sepultado no Cemitério da Saudade, cuja gleba de terras foi doada pelo próprio Barão, em Campinas.
Barão de Atibaia
Joaquim Antônio de Arruda nasceu em Campinas, em 1809. Foi um dos acionistas da Cia. Paulista de Estradas de Ferro e fundador da Cia. Mogiana de Estradas de Ferro e ajudou na construção da Igreja Nossa Senhora do Carmo. Foi o primeiro a receber, na cidade de Campinas, o título de Barão, em 1862. Faleceu em 1891 e está sepultado no Cemitério da Saudade, em Campinas.
Barão de Campinas
Três pessoas receberam o título de Barão de Campinas. São elas: Bento Manuel de Barros. Maria Luzia de Sousa Aranha (baronesa) e Joaquim Pinto de Araújo Cintra.
Bento Manuel de Barros nasceu em 1791, na cidade de Araçariguama e foi fazendeiro de Limeira, sendo um dos primeiros desbravadores daquela região e recebeu o título de Barão em 1870. Faleceu em 1873.
Maria Luzia de Sousa Aranha foi também a primeira viscondessa de Campinas. Nasceu em Ponta Grossa no ano de 1797. Herdeira da sesmaria Engenho Mato Dentro, se casou com o Coronel Francisco Egydio de Sousa Aranha, um dos primeiros cafeicultores do estado de São Paulo. Luzia faleceu em 1879 e, junto com seu esposo, está sepultada no Cemitério da Saudade, em Campinas.
Joaquim Pinto de Araújo Cintra nasceu em Atibaia, em 1824. Foi proprietário de várias fazendas em Amparo e fundador da Santa Casa Anna Cintra, na mesma cidade. Faleceu na cidade de São Paulo, em 1894.
Barão Geraldo
Geraldo Ribeiro de Sousa Resende nasceu no Rio de Janeiro, em 1846. Recebeu de herança a Fazenda Santa Genebra, em Campinas, maior produtora de café da região e pioneira em aplicar novas tecnologias no cultivo do grão. Também foi presidente do Diretório do Partido Conservador. Em 1889, recebeu o título de Barão do Iporanga, mais tarde, Barão Geraldo de Resende. Foi um monarquista convicto, investiu na fundação da Estrada de Ferro Funilense. Geraldo faliu e se suicidou em 1907 e está sepultado no Cemitério da Saudade, em Campinas.
Barão de Itapura
Joaquim Policarpo Aranha nasceu em Ponta Grossa no ano de 1809, era irmão do Barão de Anhumas. Um dos proprietários rurais mais ricos do século XIX, Policarpo possuiu as fazendas Sete Quedas, Bom Retiro, Chapadão, Santa Tereza, Atibaia e São José da Boa Vista, esta em Valinhos. Construiu o Palácio Itapura, no centro urbano de Campinas, em 1883, com o projeto de Luigi Pucci, arquiteto florentino renomado. Em estilo clássico, possui duzentos e vinte e sete cômodos, hoje de propriedade da Arquidiocese de Campinas. Recebeu o título de Barão em 1883 e faleceu em 1902.
Barão de Jacareí
Há dúvida se Bento Lúcio de Machado nasceu em Jacareí, mas sabe-se que foi em 1790. Foi um notório político e sargento de milícia, em 1831. Rico, doou uma quantia enorme ao Corpo de Voluntários Jacariano e, dentre outras ações beneficentes, doou o terreno para a construção da Santa Casa de Misericórdia da cidade, patrimônio histórico. Além disso contribuiu para a construção da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição. Recebeu o título de Barão de Jacareí em 1849. Faleceu em 1857.
Barão de Jundiaí
Antônio de Queirós Teles nasceu em Jundiaí, em 1789. Proprietário do latifúndio Sítio Grande que foi dividido e deu origem às fazendas Santa Gertrudes, São Luís, Boa Vista e Buritis. Também foi político atuando como vereador, deputado, delegado, juiz de paz e fiscal da estrada que ligava Campinas a São Paulo. Construiu, na área urbana de Jundiaí, o que hoje é chamado de Solar do Barão e que abriga o Museu Histórico da cidade. Recebeu o título de Barão em 1870, mesmo ano em que faleceu.
Barão do Japi
Joaquim Bendito de Queirós Teles nasceu em Jundiaí no ano de 1819. Filho do Barão de Jundiaí foi um rico proprietário de fazendas de café, político e tenente-coronel da Guarda Nacional. Recebeu o título de Barão em 1887 e, um ano depois faleceu na cidade de São Paulo.
Barão de Três Rios
Joaquim Egídio de Sousa Aranha nasceu em Campinas no ano de 1821. Foi um grande cafeicultor, político, empreendedor e banqueiro. Como fazendeiro foi proprietário da Fazenda Sertão, uma antiga sesmaria datada de 1885, localizada em Campinas, e das fazendas Vista Alegre, Pinheiros e Santa Gertrudes, esta na cidade de Rio Claro. Como político, foi presidente do Partido Liberal, vereador, deputado e presidente da Província de São Paulo por três vezes. Como empreendedor foi acionista da Cia. Paulista de Vias Férreas e Fluviais. E, finalmente, como banqueiro, fundou o Banco Comércio e Indústria de São Paulo. Já, na cidade de São Paulo, quando mudou em 1876, foi provedor da Santa Casa. Recebeu o título de Barão em 1872, de Visconde em 1879, de Conde em 1880 e de Marquês em 1887. Faleceu em 1893 e foi sepultado no Cemitério do Sacramento.