Carnaval de Atibaia

Uma deliciosa viagem ao tempo é o livro do autor Jamil Scatena, “Atibaia Samba Escola de Samba”, onde faz uma revigorante pesquisa da história do carnaval no Brasil e em Atibaia. Gostaríamos de colocar aqui todas as passagens desse enredo, que vem desde o entrudo, até as Escolas de Sambas organizadas, porém, faltam páginas. Então, colocaremos as que achamos mais importantes. “Semba ou Umbigada (na língua quimbundo), batuque, era assim que os escravos se manifestavam. Dançando em círculo e marcando o tempo com a palma da mão, entre ganzás, cuícas, atabaques. Liberados pelos feitores para que realizassem em certas ocasiões seus ritos, faziam suas danças e aí o couro comia com o lundu, o jongo, e por aí a fora. É na palma da mão é na sola do pé.” …Os escravos também eram liberados para a festa feita em homenagem à colheita. Fantasiavam-se colocando suas máscaras e enchiam a cara, num carnaval desorganizado e sem ritmo. …1904, a fusão da Sociedade Carlos Gomes e o Recreativo, organizam o “baile à phantasia”. …

O bacharel Augusto Monteiro de Abreu, Dr. Delegado de Polícia, baixou o centralismo, publicando que para sair fantasiado tem que ter autorização. Não tem, vai em cana. Tem mais, o entrudo fica proibido e serão recolhidos os objetos para tal fim, tipo laranjinha – bola de plástico, com líquido dentro (dá pra imagina que tipo de líquido?) – bisnagas e quetais. …Em 1929 serviu para lavar as mágoas dos brincalhões atibaienses. Tivemos o animado Zé-pereira e, nos carros alegóricos, senhorinhas e rapazes fantasiados para o corso. Conforme o prometido por Leão Propheta, presidente da Associação Recreativa Comerciários, o baile à fantasia foi o máximo, não só lá. No Recreativo Atibaiano foram duas noites no embalo do sucesso Dorinha Meu Amor, música de José Francisco de Freitas, o Freitinhas (1897/1956). …No Rio de Janeiro, 1935, é criado o primeiro desfile oficial. Agora o samba tem nota: originalidade, harmonia, bateria. Foi uma maneira de se tentar botar ordem na casa. …Garotas de Atibaia, marchinha de Pedro Cerbino em parceria com Lucas Bernardes, serviu para esquentar aquele carnaval de 1936, que, na interpretação de Os Batutas de Ouro, veio mostrar que esse maestro gostava do carnaval de rua. Os cordões iam se firmando e surgiam as rivalidades.

A Associação Atlética do Comércio não gostou nada do nome que deram para o tema do seu enredo Quem é Bom Não se Mistura, e saiu chutando o pau da barraca. Fez anunciar “Ordem do Dia” na qual esclarece que não autorizava ninguém a dar nome ao seu cordão e que essa iniciativa partiu unicamente de determinados sócios, sem a menor interferência oficial da diretoria. O cordão do São João estava em franca rivalidade com o Cetebê que, para engrossar o caldo se juntou com os Batutas de Ouro. A prefeitura, pela primeira vez, libera uma grana para montagem e decoração de um “artístico” coreto na José Alvim, bem defronte à Pharmácia Popular, onde se apresentaram as bandas 1° de Março e 24 de Outubro. Os clubes travavam uma verdadeira batalha e anunciavam, tanto o Recreativo como o São João, bailes colossais com muita animação. Os Batutas de Ouro, sempre com a ideia de inovar, alugaram o Trianon-Cinema que ficava na Rua José Pires e avisaram a moçada “Venham dispostos, pois vamos ticar até o dia amanhecer”. …Bloco da Natália. Falam, também, Samba da Natália, que surgiu inicialmente junto com o Fausto Akoury, mas depois seguiu sozinha. Isso lá pelos anos de 1949- 50. Várias pessoas com que conversei falaram dela, mesmo sem eu perguntar; papo vai papo vem e pimba; Bloco da Natália.

O bloco durou até o início dos anos de 1960 e o Dr. Renato Zanoni descrevendo a formação desse bloco diz que só não tinha sopros, eram as cordas, os couros e a frigideira. Em 1955 surge o Ritmo Clube. …A presença de confete, serpentina e lança-perfume era inevitável. Esses três elementos, introduzidos no Brasil no começo do século XX, substituindo o entrudo, aquela guerra maluca de água e outras coisas, animavam as festas de salão e de rua. …Para cobrir a ausência da rádio, existia na Praça da Matriz um par de alto-falantes que tocavam músicas o dia inteiro e, fazendo o papel do rádio, anunciavam os seus “reclames”, divulgando as ofertas das lojas e informando os horários dos ônibus que partiam da rodoviária. Foi então que em 1955 surge a primeira estação de rádio de Atibaia, com o nome de Rádio Técnica de Atibaia-ZYR-95. …Associação dos Boêmios e Biriteiros de Atibaia (A.B.B.A.) nasceu, num bate-papo no bar do Marrom Glacê que ficava na praça da Matriz. Esse bar era o ponto da época. O nome nasceu inspirado na Abebei – Associação dos Boêmios e Biriteiros de Itaparica. Contato com o autor: Jamil.scaten@gmail.com