Atibaia e sua História

Foto: Acervo Museu Municipal João Batista Conti

Para podermos entender o contexto das cidades que surgiram no interior do Estado de São Paulo, é necessário compreender uma das figuras mais emblemáticas de nossa colonização do século XVI, que é o Bandeirante. Curioso hoje em dia analisar os nomes dados a nossas rodovias paulistas, pois a maioria delas homenageiam esses desbravadores que abriram caminhos muito perigosos no “sertão” de nosso estado, como Fernão Dias, Anhanguera, Bandeirantes, Raposo Tavares, Tamoios etc. Os Bandeirantes são retratados, na maioria dos livros e mesmo estátuas, vestidos de com uma pomposa roupa, demonstrando força e poder com suas botas de cano alto, mosquetes belíssimos e chapéus de fino acabamento.

A eles atribuem-se porções enormes de terras conquistadas, verdadeiros latifúndios, propriedades gigantescas que cobriam vales e montanhas ao mesmo tempo. Poderíamos levar até um dia inteiro para percorremos ao lombo de uma mula, em sentido reto, uma propriedade e, talvez, não chegássemos ao fim. Porém, a realidade não é bem essa. José de Alcântara Machado (1875-1941), em seu livro “Vida e morte do Bandeirante”, consegue abrir nossas mentes para o período seiscentista mostrando-nos, por meio dos inventários feitos dos bandeirantes, a realidade nua e crua do estado. O que para nós, conquistarmos hoje um espaço ao sol, comprar uma casa ou um sítio é quase insano devido o valor, naquela época, a terra era o que menos valia. Não possuíamos produtos manufaturados, então um vestido de veludo ou uma peça de louça eram centenas de vezes mais valiosos que um território inteiro! Lei da oferta e da procura.

Os Bandeirantes tinham que buscar recursos e estes não estavam mais no litoral, precisavam de nativos para trabalhar na lavoura e do ouro. Embrenhavam-se mata adentro a caça de índios ou mesmo travavam sangrentas lutas com estes. Lutavam também com as diversas doenças, muitas mortes nas caravanas e a maioria não conseguia voltar para suas casas. Uma vida de pobreza, esquecidos além da muralha (Serra do Mar), onde Deus poderia ser a única forma de consolo desse estilo de vida.

Praça Claudino Alves – Hotel Municipal e Casarão Ferraz

Pelas idas e vindas dos Bandeirantes na busca do metal precioso e de mão de obra escrava, muito locais de parada foram surgindo ao longo do caminho, locais estes que possuíam atrativos propícios aos viajantes e aos que se fixavam para então poder montar seus pequenos e rudes negócios. Estes locais, ao longo do tempo, foram transformando-se em pequenas vilas, freguesias e enfim, cidades. E Atibaia, teve seu início dentro deste contexto. Uma parada com muitas possibilidades de fixação de uma população, para auxiliar os que viajavam. Aconteceu com o Bandeirante Jerônimo de Camargo que construiu sua fazenda de gado São João Batista e, no cimo de uma colina regada por um rio, erigiu a primeira capela de mesmo nome, em 24 de junho de 1665. Esta data marca o aniversário da cidade.

Mas o povoado começou a surgir com a vinda do padre Mateus Nunes de Siqueira e os índios guarus, já catequizados, a pedido da Câmara Municipal de São Paulo. Padre Mateus instalou-se ao lado da Fazenda São João Batista e, ali, como parada obrigatória dos viajantes, o povoado começou a se desenvolver. “avia descido do sertão cantidade de gentio, goarulho o coalpor desijar de se chegar ao gremio da santa madre igreja, vinha reseber a agoa do santo bautismo; he que o dito reverendo padre avia feito algum gasto para o deser; he trazer a povoado; somente com o selo da salvação do dito gentio; no
que avia trabalhado; ansiozamente; sem genero de interes; mais que o seo fervor cristão; o coal gentio ja estava en povoado he termo desta vila; na paragen chamada Atubaia; e que o dito reverendo pe. entregava; o dito gentio a elles ditos ofisiais para que formasen aldeia…” (em 3 de julho de 1665 atas da Câmara de São Paulo – vol., anexo ao vol. VI pág. 428 – extraído do livro História de Atibaia Volume I – João Batista Conti)

Estabelecida no mapa paulista, Atibaia recebeu muitos dos mais ferrenhos sertanistas que passaram por aqui, como Fernão Dias e Dom Rodrigo Castel Blanco.

Jerônimo de Camargo

Caçador de índios, desbravador do sertão, figura enigmática, político, fiscal e juiz ordinário de São Paulo. Foi casado com Ana de Cerqueira, com quem teve cinco filhas: Maria Pires de Camargo, Ana Maria de Camargo, Leonor Domingues de Camargo, Filipa Vaz e Isabel de Ribeira. Faleceu em Jundiaí, em 1707.

Olímpio da Paixão no Primeiro Congresso Republicano – Obra de Itajahy
Atibaia

Difícil é saber realmente a origem do nome de Atibaia. Sabe-se que é em tupi, porém pode haver muitas variações como Tybaia, Thibaya, Atubaia, que podem significar rio da feitoria, rio alagado, morro depen-durado, água saudável, trançada, revolta ou confusa.

Situada bem no centro das maiores cidades já fundadas do Estado, Atibaia sempre participou das grandes decisões políticas nacionais, com integrantes de várias tendências partidárias. Em todas as mu-danças do cenário brasileiro, os atibaianos travaram fervorosamente debates ideológicos, demonstrando assim, um alto sentimento pela liberdade de opinião entre os mais esclarecidos da cidade. Exemplos não faltam das acaloradas discussões na câmara: “Afastada a causa que me obriga a um silêncio bem à contra gosto, isto é, não sendo mais governador d’este estado, o meu velho amigo e companheiro de luctas, Dr. Prudente de Moraes, passo hoje comodamente a declarar que desde o dia 15 de Abril, as cousas políticas n’esta localidade cor-rem sem responsabilidade alguma, nem sugestões de minha pessôa. A permanência daquele distincto cidadão, na culminancia governamen-tal em se achava, a necessidade de unificação dos animos para uma eleição pacifica, a primeira do nosso regime e organizadora da Consti-tuinte, deixam de actuar, como fica dito, e eu como outr’ora permaneço na mesma trajectoria em que me encontrou a República proclamada como instituição pátria. Si não exaltei-me com o seu advento, não pos-so curvar-me aos vencidos hoje vencedores: effeitos de temperamen-to ou orgulho de quem se conhece digno, ou ambas as cousas, deixe-me com ellas no meu isolamento de ebyonita, lembrando-se de que eu não os procurei, e sim fui arrancado de minha obscuridade, para ensinar-lhes a dignidade civica que não consegui.”
31 de outubro de 1890
Olímpio da Paixão
Fonte: livro “História de Atibaia – volume I – João Batista Conti
Assim como os bandeirantes abriram caminhos para o desconhecido, os atibaianos abriram caminhos para a democracia.